DIA DAS BRUXAS: PESQUISA

 

Matéria da Revista Superinteressante

Bruxas: quem eram elas e por que iam parar na fogueira?

Por Tiago Cordeiro

 

Elas até podiam ter nariz adunco com verrugas na ponta e usarem chapéus pontudos. Frequentemente, preparavam poções em caldeirões. E talvez até tivessem gatos pretos como animais de estimação. Mas não se engane: as bruxas eram apenas mulheres independentes, cultivando tradições inofensivas, que passavam de mãe para filha Não muito diferente de muitas vovós de famílias do interior até hoje, que preparam remédios caseiros. Na época, isso podia ser motivo para ir para a fogueira.

“As mulheres atraíam muita desconfiança da Igreja. Quando elas se mostravam habilidosas para lidar com a vida, seja preparando medicamentos ou atuando como parteiras, os bispos iam à loucura”, afirma historiador britânico Malcolm Gaskill, professor da Universidade de East Anglia. “Depois de várias semanas de tortura, as mulheres confessavam práticas indescritíveis, como beijar ânus de gatos, beber sangue humano ou sacrificar crianças recém-nascidas.” Assim, por meio dessas confissões, o mito ganhava credibilidade, levando a mais perseguição e mais histórias de satanismo extraídas na marra num círculo vicioso.

Quando a perseguição alcançou o auge, vestígios da cultura pagã e costumes característicos da vida rural se transformaram em pretexto para buscar culpados para todo tipo de crise. Colheitas especialmente ruins, ondas de morte no gado ou entre recém-nascidos, epidemias inexplicáveis para a época, ou até mesmo seca ou chuvas fora da estação eram consideradas motivos para sair procurando pelas supostas adoradoras do demônio.

Narizes grandes e marcas na pele podiam ser incriminadores. O Vaticano considerava que o maléfico se manifestava pelo feio. Verrugas, corcundas, deformações físicas como mão torta, tudo isso poderia ser visto como manifestação de bruxaria. Quanto aos chapéus pontudos eles chegaram a estar na moda na Europa. Eram muito usados por camponesas mulheres que também manipulavam caldeirões, nos quais eram feitos remédios tradicionais. A igreja adepta do hábito de relacionar objetos pontudos ao diabo e a produção de remédios populares à prática proibidas passou a perseguir tanto o chapéu quanto o caldeirão. Daí vem o estereótipo moderno.

 

A VIDA SEXUAL DAS BRUXAS

A vassoura tem uma origem no mínimo insólito. Instrumento de trabalho de esposas e filhas, ela ainda tinha relação com um antigo rito celta: sacerdotisas usavam pedaços de pau e corriam posicionadas sobre eles como se fossem cavalos, num ritual erótico de fertilidade, uma forma de estimular o mundo vegetal a crescer com rapidez. Então era usada uma erva chamada neimendro, um potente alucinógeno, do qual eram feitos os ungüentos, que eram aplicados nas palavras do teólogo do século 15 Jornades de Bérgamo, “embaixo dos braços e outras partes peludas. Era nisso que, como o perdão da expressão, entrava na vassoura. As sacerdotisas celtas besuntavam a vassoura com ungüento de neimendro e, usando o cabo para aplicar mais fundo e saiam por aí montadas nela, tão alucinadas que “voavam”.

            Outra maneira de se movimentar seria adotar a forma de animais, especialmente gatos. No século 15 o Papa Inocêncio 8º publicou a bula Summis desiderantes affectibus, que reconhecia oficialmente a existência de bruxas e incluía gatos pretos na lista de seres que deveriam ser perseguidos. Eles eram de fato, ainda no século 18 os franceses mantinham o hábito de prender gatos acusados de serem bruxas metamorfoseadas. Os animais eram queimados vivos ou estrangulados em praças. As reuniões de mulheres no meio rural, seja para ajudar na colheita ou mesmo para pedir fartura aos anjos e santos, eram consideradas uma forma disfarçada de “sabá” – a palavra inspirada nos rituais judeus, indicava reunião de bruxas, no mato, ao redor de fogueiras, para realização de rituais diversos. As bruxas também seriam amantes ardorosas do demônio, o que serviu de desculpa para perseguir pessoas de hábitos sexuais considerados desviantes, em especial a homossexualidade, tanto masculina quanto feminina, ou mesmo o crime de adotar posições diferentes de papai-e-mamãe.

            Até a Idade Contemporânea, a Europa somou 12 mil julgamentos por bruxaria, com cerca de 50 mil condenações à morte, a maioria por confissões obtidas sob tortura, ou métodos exóticos. Havia também “a prova da água fria”. A acusada era amarrada com cordas no fundo de um rio. Se ela afundasse, era inocente e eles tentavam tirá-la do fundo então. Para quem era condenada, a fogueira não era o único método, também podiam ser punições convencionais: enforcamento ou decapitação.

            No mundo desenvolvido, a perseguição sofreu uma redução brusca no século 18. A última execução aconteceu na Suíça, em 1782.

 

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Pesquisa feita pela nossa Sassenach Iara 

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