PESQUISA: A Medicina no Século XVIII
A medicina e o cuidado médico têm um papel
fundamental durante toda a trama desenvolvida por Diana Gabaldon. Desde o primeiro
contato de Claire com Jaime, suas habilidades no tratamento de enfermidades
foram postas a prova. De enfermeira a médica, durante todo o desenrolar do
enredo pudemos desfrutar dos conhecimentos sobre a cura de diversas doenças de
nossa viajante do tempo.
O saber e conhecimento médico passaram por
intensa transformação durante toda a Idade Moderna, principalmente após o fim
do Renascimento, com crescente racionalidade, atingindo o auge no final do
século XVIII. O estudo da Anatomia e Fisiologia aos poucos deixa de ser
teórico/descritivo e passa a ser empírico através do estudo do corpo humano. As
doenças passaram a ser mais bem classificadas e tratadas de acordo com as
alterações clínicas/morfológicas encontradas, deixando aos poucos de serem
atribuídas às enfermidades da alma. Os
avanços na anatomia permitiram, através da dissecção de cadáveres, observar as
lesões orgânicas e associá-las aos sinais e sintomas apresentados pelo paciente
antes de sua morte, permitindo, desta forma, uma correlação clínica.
“Uma mulher muito magra estava deitada
languidamente sob um único cobertor, os olhos embotados vagando por nós sem
interesse. Não foi a mulher que atraiu minha atenção, mas o recipiente de vidro
de forma estranha no chão [...] Peguei o recipiente com todo cuidado, ignorando
a exclamação de alarmado protesto da irmã Angelique. Cheirei o líquido com
cautela. De fato; parcialmente obscurecido por ácidos vapores de amônia, o
fluído tinha um cheiro doentiamente adocicado [...] Hesitei, mas havia apenas
uma maneira de me certificar. Com uma careta de nojo, enfiei a ponta de um dedo
escrupulosamente no líquido e toquei-o de modo delicado em minha língua.”
(GABALDON, 2018, p. 212)
Até o início do século havia uma grande
divisão entre a medicina clínica e cirúrgica. Os procedimentos cirúrgicos eram
perigosos, com alta taxa de mortalidade ocasionada, principalmente, por
hemorragias e infecções. Por esse motivo os cirurgiões só eram contactados
quando não houvesse outro tratamento. Porém, com o saber médico sendo
aprimorado através das práticas anatômicas e com o aperfeiçoamento das técnicas
cirúrgicas, os cirurgiões, gradativamente, passaram a ter prestígio e a
participar do processo de cura.
Os hospitais que eram locais
desorganizados e, muitas vezes, insalubres, usados como “depósito” dos enfermos
para salvar a alma antes da morte, foram aos poucos transformados em ambiente
de cura. As visitas médicas que, até então eram incomuns, passaram a fazer
parte da rotina hospitalar e os pacientes que antes eram cuidados por
religiosos e alguns voluntários, com o tempo, passaram a ser tratados por médicos
e cirurgiões.
Durante todo o século que foi marcado por
guerras e lutas políticas, as principais nações não podiam ser assoladas por
grandes moléstias, nem mesmo perder soldados por doenças curáveis. Desta forma
os ambientes hospitalares passaram a servir como lugar de quarentena para
impedir que doenças contagiosas se disseminassem gerando grande número de
mortos. Além disso, esses lugares passaram a receber soldados treinados que
ficassem doentes antes e durante as guerras.
Essas mudanças ocorreram ao longo de todo
o século de forma gradativa, porém sem conseguir eliminar misticismo que,
durante muitos anos, fez parte do cuidado médico.
Referências:
CAMPOS, João Fortuna. Cirurgiões portugueses nos séculos XVII – XVIII e Cancro da Mama. [S. l.], 9 jul. 2013. Online. Disponível em: http://ordemdosmedicos.pt/wp-content/uploads/2017/09/Cirurgioes_Portugueses_nos_Sec_XVII_e_XVIII___Fortuna_Campos.pdf. Acesso em: 02 nov. 2020.
DEICKE, Nelson. A enfermagem e a evolução dos hospitais. [S. l.], 10 out. 2011. Disponível em: http://www2.ufac.br/site/noticias/ufac-na-imprensa/edicoes-2001/janeiro/a-enfermagem-e-a-evolucao-dos-hospitais. Acesso em: 02 nov. 2020.
GABALDON, Diana. Hôpital des Anges. In: GABALDON, Diana. Outlander: a libélula no âmbar. São Paulo: Arqueiro, 2018. v. 2, cap. 12, p. 209-228.
HEYNEMANN, Claudia Beatriz. Medicina e práticas curativas no Brasil. [S. l.], 4 jun. 2018. Disponível em: http://historiacolonial.arquivonacional.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5222&Itemid=276. Acesso em: 02 nov. 2020.
MIRANDA,
Carlos Alberto Cunha. A Arte de curar nos tempos da colônia. 3. ed. rev.
ampl. e atual. Recife: Ed. UFPE, 2017. E-book. Disponível em: https://www.ufpe.br/documents/39938/950195/E-book+A+ARTE+DE+CURAR.pdf/79de256e-161d-4fb1-bf4e-e802193f223a.
Acesso em: 02 nov. 2020.
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