PESQUISA: O USO DO TARTÃ NO REINO UNIDO
Dia do Tartã - 6 de Abril
O maior
efeito do conflito de Culloden, em 1746, foi a prevalência do domínio
britânico sobre a cultura local, com a extirpação não apenas de vidas, como
também de símbolos da cultura local, como o kilt, o tartã (tecido de
estampa xadrez usado pelos highlanders), o uso de espadas e a língua gaélica.
O tartã,
em especial, era usado para distinguir os clãs e seus níveis de poder na
estrutura organizacional da Escócia. Seu uso passou a ser considerado, durante
um bom tempo, como símbolo de orgulho e resistência dos escoceses.
O padrão
que hoje simboliza a Escócia teve origem rebelde, sendo atualmente adotado pela
Coroa Britânica.
No Museu Nacional da Escócia, localizado no centro de Edimburgo, um item resume o relacionamento do país com o tartã, o padrão quadriculado há séculos associado com o país. Um casaco com punhos e colarinhos feitos de veludo vermelho não apenas tem estilo como parece confortável para ser usado nos dias de hoje. Mas trata-se de uma peça com 272 anos de idade.
É o
casaco usado por Carlos Eduardo Stuart durante sua tentativa frustrada de
reconquistar a coroa britânica para os Stuart, a família real católica
britânica destronada no século XVII. Os Stuart eram escoceses e - assim como
inúmeros escoceses de ontem e hoje, Carlos Eduardo usava o padrão como forma de
afirmar sua identidade nacional.
Apesar de
ser descendente de escoceses, Carlos nasceu e cresceu em Roma - e jamais tinha
visitado a terra dos antepassados. Mas o casaco com o padrão tartã era um sinal
de simpatia perante os "compatriotas". Esse lance de relações-públicas
funcionou e retratos do príncipe rebelde foram reproduzidos em toda sorte de
objetos, de talheres a caixinhas de rapé - ganhou ainda o apelido de Bonnie
Prince Charlie, algo como Carlos, o Bonitão.
De
quebra, o garoto-propaganda do movimento Jacobita, como ficou conhecida a
campanha pró-Stuart, arrebanhou adeptos suficientes para obter interessantes
vitórias militares e marchar de forma triunfal até a cidade de Derby,
percorrendo quase metade do território do Reino Unido antes de ser derrotado na
Batalha de Culloden.
O
príncipe fugiu da Escócia em 1746 e o Reino Unido ainda tem no trono a dinastia
protestante que ele falhou em derrubar. Mas, apesar de derrotado nos campos de
batalha, o tartã resistiu não apenas na Escócia e ganhou o mundo.
O casaco
é apenas um de muitos tesouros que fazem parte de uma exposição sobre o Levante
Jacobita, liderado por Carlos em 1745. A exibição lança nova luz sobre a
política do conflito, mas não deixa de lado a interessante estética da revolta
- em especial a transição do tartã como costume regional para "marca"
internacional.
Seu uso
data do século XII, quando foram identificados os primeiros registros de
uniformidade no uso das vestes de padrão xadrez (tartã por um grupo de
escoceses vinculados a um Laird (Senhor), dono de terras, patriarca e chefe do
Clã, que acumulava em sua pessoa várias atribuições, dentre elas julgar e
comandar as guerras e conflitos, com base na fidelidade de seus homens. Tal
organização não se baseava necessariamente em vínculo de sangue, mas sim em um
juramento pessoal, em uma troca de serviço militar por proteção e terras do
Senhor. Ressalta-se que mesmo sem laços sanguíneos, os membros do Clã adotavam
o nome do Chief, como se percebe nos dias atuais, pela nomenclatura que
permaneceu.
Assim, os
confrontos entre escoceses e ingleses tinham certa freqüência, mas os Clãs eram
também o ponto fraco, o que acabou se transformando no maior trunfo dos
ingleses, já que os nobres escoceses, chefes de clãs eram alvo de constantes
intrigas por parte dos ingleses. Maquinações. Por outro lado, seja pela fama de
selvagens, pela geografia das Terras Altas, pelos anos de opressão, os
escoceses eram bem resistentes.
Culloden significou o fim de sucessivas rebeliões. Mas o
tartã permaneceu.
"Estamos
falando de um tecido que sempre foi uma marca de distinção", diz Viccy
Coltman, professora de História da Arte da Universidade de Edimburgo.
"Isso faz parte de sua história".
Depois da
Batalha de Culloden, o tecido foi banido da Escócia por ordem real. Mas
isso deu ao tartã um certo status cult e, quando a proibição foi
suspensa, em 1782, o padrão virou moda. Não era um sinal de apoio ao movimento
jacobita, mas sim uma forma de ostentação da aristocracia e de uma emergente
classe média.
"O
movimento criou uma indústria de vestimentas consideradas relíquias",
explica Coltman.
E os
maiores compradores eram justamente os escoceses que ajudaram a derrotar Carlos
Stuart. Essa apropriação teve seu auge em 1822, quando o rei George IV visitou
Edimburgo e Walter Scott, escritor de romances históricos sobre uma Escócia
idealizada e um dos organizadores da visita real, arranjou um comitê de
recepção nas ruas da cidade em que o traje era o tartã. Há até um retrato do
soberano usando um kilt.
Carlos
Stuart foi derrotado, apesar de vitórias militares. O padrão não era mais
ameaçador - e sua suposta reabilitação estava completa.
A rainha
Vitória continuou essa apropriação, usando xadrez em fotos oficiais em suas
visitas a Balmoral, a residência de verão da família real na Escócia. Antes
inimiga, a Escócia, virara destino de férias. O país se tornara uma marca e o
tartã era parte integral de sua identidade - o padrão passou a fazer parte de
todos os produtos para turistas.
Até o
final do século 19 havia apenas algumas variedades do xadrez. Mas a mecanização
da produção têxtil possibilitou a produção de imensas variações. Um consumidor
com um sobrenome escocês podia escolher um tartã particular, quiçá associado a
uma região específica, que depois era vendido para alguém com o mesmo
sobrenome.
"Era
tudo uma questão de tino comercial", explica David Forsyth, curador da
exposição no Museu Nacional da Escócia.
E esse
marketing misturado à mitologia criou uma vestimenta nacional. O padrão foi
devidamente adotado pela monarquia britânica
No final
do século, o tartã era muito diferente da vestimenta original do século 18.
Feito à máquina em vez de à mão, o material moderno era mais barato e adaptado
para todo tipo de usos. Acima de tudo, transformou-se em símbolo de lealdade à
supremacia protestante, em vez de um tecido associado à causa católica.
O Império
Britânico fez do xadrez um símbolo internacional. Regimentos militares
escoceses vestiam o padrão e mercadores britânicos exportaram produtos com a
estampa ao redor do mundo. O tartã era exótico, mas ao mesmo tempo familiar.
Perigoso, mas respeitável. Você poderia vesti-lo como um outsider, ou um
membro do status quo.
Findo o
império, o tartã continua em voga. Designers de moda britânicos seguiram usando
o padrão como inspiração, que também chegou à moda francesa. No mundo da
música, tanto punks como novos românticos usaram tartã. O padrão se
tornou tanto uma marca de rebeldia quanto de sofisticação.
"A
história é escrita pelos vencedores", diz Forsyth. Mas embora tenha
perdido a Batalha de Culloden, Carlos Eduardo Stuart ganhou a guerra da moda.
Clãs - estruturas de famílias e
protetorados que se identificavam por kilts com padrões semelhantes.
Kilts – tradicional traje escocês
que se assemelha a uma saia.
Tartã - padronagens de um
tecido a base de lã, e que tinha várias utilidades, principalmente aquecer a
pessoa contra o rígido frio das Highlands.
Fontes:
https://deliriumnerd.com/2016/11/08/serie-outlander/
https://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-41908736
https://umpouquinhodecadalugar.com/europa/a-batalha-de-culloden-na-escocia/
https://donaarquiteta.com.br/museu-e-campo-de-batalha-de-culloden-inverness/
https://www.infoescola.com/historia/jacobitismo/
http://www.clanmachamilton.com.br/kilt.htm
https://www.terramundi.com.br/blog/escocia-de-outlander/
http://goescocia.com/batalha-de-culloden/
http://vidanaescocia.com.br/como-ser-um-bom-turista-na-escocia-e-no-resto-do-mundo/
PARABÉNS, Mônica!!!!!
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