RESUMO: LIVRO 3 - CAP. 12
PARTE III – QUANDO ME TORNEI SEU
PRISIONEIRO
Capítulo
12
Sacrifício
Era
um dia chuvoso de novembro – não muito diferente dos demais na Escócia. Jonh
Grey acompanhava a inspeção e busca nas celas por parte dos soldados. Um deles
encontrou várias miudezas sem muita importância, mas havia um pedaço de pano de
um tartã. Considerando que o uso e posse de tartã ou kilt tinham se tornado
crime a partir de um decreto da coroa britânica, os soldados e Grey procuraram
saber quem guardava aquele pedaço de pano. Avaliou em seus conhecimentos sobre
os clãs e lembrou-se que a estampa deveria ser correspondente ao clã Mackenzie,
indicando, portanto, o jovem Angus Mackenzie como o responsável. Mas antes que
o rapaz falasse algo, Jamie assumiu a responsabilidade justificando que ele era
um Mackenzie por parte de sua mãe.
Com
a situação, os demais prisioneiros murmuraram em volta de Jamie como se
debatesse sobre algo. Grey evitou olhar nos olhos de Jamie, mas não pode deixar
de ver sua expressão de indiferença. O major pediu para que os guardas o
levassem dali.
Em
meio à burocracia da prisão, entre as papeladas que tinha que assinar e
despachar, Grey não conseguia afastar seu pensamento do que ocorreu durante o
dia, já havia tentado diversas formas, mas sem sucesso. Então, resolveu reunir
os prisioneiros para executar a punição. O sargento leu a acusação e, como um
oficial fiel à coroa e coerente à sua posição, o major ordenou que cumprissem a
pena: sessenta chibatadas. Grey acompanhava tudo consternado e, no meio da
punição, não conseguiu segurar a ânsia que o atormentava ao ver aquela cena e
vomitou.
Enquanto
sofria a pena, Jamie fora afetado pelas memórias de quando tinha dezenove anos
e fora açoitado pela primeira vez. Na ocasião, contou com os cuidados de um
médico muito atencioso e sensível que trancou a porta para que ele pudesse
chorar sem o constrangimento de estar na frente de outros homens. Ao acordar de
tais lembranças, Jamie estava de volta à Ardsmuir sob os cuidados de Morrison,
o curandeiro a quem os demais prisioneiros recorriam quando tinham qualquer
problema de saúde.
Envolto
em uma nuvem de dor gerada pelos ferimentos do açoite, Jamie ouviu alguns
golpes e murmúrios de dor. Os homens batiam em Angus por ele ser o verdadeiro
dono do pedaço de tartã encontrado, causando, portanto, o sofrimento ao líder
deles que, num gesto nobre, havia assumido a culpa. Jamie ainda tentou se mexer
na tentativa de contê-los em no ato de justiça, mas foi contido por Morrison.
Além disso, não tinha força suficiente sequer para levantar-se do banco onde
estava deitado com as costas para cima.
Ao
final do capítulo, Jamie ficou imerso em seus pensamentos gerados pelo
sombreamento da vela no recinto. Pensou sobre as figuras dos apóstolos, lembrou
de Claire e se ela teria sido um presente enviado por Deus. Pensou também sobre
o papel e o dom de cada pessoa. Viu o jovem Angus acordado e perguntou se ele
estava bem. O rapaz afirmou que sim e perguntou o mesmo ao seu líder. Jamie
disse que sim e pediu para que jovem fosse dormir. Refletiu sobre o papel
imposto a Grey e a Charles Stuart e pensou que nenhum deles havia nascido para
a função desempenhada. Perdoou Charles. Depois, adormeceu. Quando acordou,
estava dolorido por causa dos ferimentos, mas a raiva havia ido embora e
sentiu-se agradecido por John Grey ter lhe devolvido seu destino.
GABALDON, Diana. Sacrifício. In: GABALDON, Diana. Outlander: o resgate no mar. São Paulo: Arqueiro, 2018. v. 3, cap.12.
Apontamentos do capítulo
- Inicia relatando que em um dia chuvoso é
feita a limpeza nas celas dos prisioneiros. Durante a faxina das celas, é
encontrado um pequeno pedaço de tartã.
“Isso”
era uma pequena tira de pano, talvez de quinze por dez centímetros em xadrez
verde de um tartã.
A
posse de qualquer tartã escocês era estritamente proibida pelo Diskilting Act —
o decreto que ao mesmo tempo desarmava os escoceses das Terras Altas e os
proibia de usar seu traje tradicional, o kilt.
Em
algum canto remoto de sua mente, Grey armazenou mais uma minúscula migalha de
informação com o pequeno tesouro de fatos mantidos no cofre de joias
identificado com a etiqueta “Jamie” — sua mãe era uma MacKenzie. Sabia que isso
era verdade, exatamente como sabia que o tartã não pertencia a Fraser
Percebe-se
que Major Grey não esperava por aquela atitude de Jamie, visto que teria que
puni-lo conforme a lei ordenava e no fundo ele não desejava aquilo. Mas se não
o fizesse, pagaria um preço ainda maior.
De
algum modo, John Grey suspeitava que esta ocasião em particular não aumentara o
respeito dos prisioneiros — ao menos, não por ele.
Sentindo
pouco mais do que o fluxo de água gelada em suas veias, dera suas ordens, de
forma rápida e serena, e elas foram obedecidas com igual competência.
Vemos
mais uma vez Jamie usando da empatia, cedendo seu corpo já marcado pela dor,
pela humilhação, mas principalmente pela coragem, assumindo uma culpa que não
era sua, mas que assumiu com bravura e honradez. É amordaçado e açoitado 70 vezes diante de
amigos e prisioneiros que nada puderam fazer por ele, senão assistir aquela
cena de horror, silêncio, brutalidade e profunda dor.
Grey
podia sentir os homens atrás de si, soldados e prisioneiros, todos os olhos fixos
na plataforma e em sua figura central. Até mesmo a tosse silenciou e por cima
de tudo, como um manto pegajoso de verniz lacrando os sentimentos de Grey,
havia uma fina camada de nojo de si mesmo, conforme percebia que seus olhos
estavam fixos na cena, não por dever, mas por pura incapacidade de desviar os
olhos do brilho da mistura de sangue e chuva que cintilava nos músculos,
contraídos de dor em curvas de arrebatadora beleza.
Durante
a cena do açoitamento é possível perceber que a autora reporta às lembranças de
Jamie quando esse sofrera seu 1º açoitamento aos 19 anos. Impossível não sentir
a angústia e o dilaceramento do personagem quando o médico que é destinado para
realizar os cuidados com seus ferimentos, ao perceber seu estado de intenso
tremor, pavor e dor é tomado pela sensibilidade que se soma ao desespero de
Jamie e avisa-o de que ele ficará só e pode chorar... Somos convidados a chorar
com ele, e posso apostar, que ninguém, por mais insensível que seja... não
visualize em sua mente as lágrimas rolarem pelo rosto de Jamie.
O
médico tocou delicadamente aqui e ali em suas costas, então se levantou. Ouviu
o barulho da trava da porta, depois os passos do médico retornando.
—
Ninguém entrará aqui agora — disse a voz gentilmente. — Vá em frente e chore.
Após
cumprir sua pena, Jamie é levado para a cela e lá é cuidado por Morrison que o
ajuda com seus ferimentos, pois era considerado o curandeiro natural dos
homens. Em determinado momento, talvez por saber que mesmo naquelas condições
Jamie tentaria intervir novamente, Marrison tenta impedi-lo de ouvir que também
estavam batendo no jovem Angus Mackenzie.
O título do capítulo faz jus a tudo que Jamie
Fraser demostra ter feito em toda sua vida por todos aqueles a que amara, ama e
com quem convivera: SACRIFÍCIOS. Não importava o tamanho do sofrimento, da dor,
das consequências, ele sempre se sacrificaria enquanto lhe restasse um sopro de
vida ou algo por que ou quem lutar, mesmo que tudo o que recebesse de volta
fosse injustiça... “Ele nascera um
líder, depois foi moldado ainda mais para adequar-se a esse destino.” Portanto,
pensou, através da névoa que começava a envolvê-lo, John Grey lhe devolvera seu
destino. Podia sentir-se quase agradecido.
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