PESQUISA: Círculo de Pedras

Algo que vive no mais profundo da humanidade, é o mistério de suas muitas civilizações há muito desaparecidas. O que faziam, como viviam, quem eram, em que acreditavam? Grande parte do todo se perdeu junto a estes povos. Apenas mais recentemente aqueles pequenos registros orais passaram a ser copiados, portanto, ainda que datados, pesquisados, examinados, esses registros trazem o parecer de outros sobre o que conseguiram encontrar. Não podemos dizer que são, no todo, confiáveis. 

À sombra destes mistérios humanos, estão os famosos Círculos de Pedras explorados tão avidamente por Diana Gabaldon na composição de seu romance: Outlander.

Neste artigo falaremos um pouco sobre os círculos de pedras, na Escócia e na Europa. E também tentaremos, na medida em que possível nos foi, explicar: Por que a Europa tem a maior concentração dessas formações?

Primeiramente, é preciso deixar claro que estes registros existem e se expandem não apenas na Europa, mas em todo o globo, isso chegou a levantar teorias de ufólogos sobre a visita de vidas extraterrestres demarcando território. Em uma visão mais cética e mais determinante, historiadores acreditam que esses círculos estão diretamente ligados ao berço da humanidade, tendo a sua origem no coração do continente Africano e se expandindo com os homens e as eras para as vastas localizações onde são encontrados e preservados. Seja lá qual for o objetivo dos círculos, despertam admiração e muitas teorias. No artigo, citaremos aqueles que se concentram no cerne de nossa pesquisa, Europa.

A Escócia tem inúmeros monumentos, atualmente contabiliza-se mais de 175 apenas no pequeno país. Orkney, Shetland, Galloway e Argyll, são algumas das localidades em que se encontram esses monumentos. Sei que alguns ficarão decepcionados em saber, mas Craig Na Dun não existe. Foi criado pela produção da série de TV em suas locações, na colina de Kinoch Rannoch. O círculo mais próximo a Inverness, onde a trama de Claire tem o seu início, é o de Aberdeenshire. Estudos mostram que os círculos podem ter sido construídos há mais de 5 mil anos, quando os primeiros grupos humanos se fixaram como povos nessa parte do que hoje compõe a Grã-Bretanha. A verdade é que nem mesmo os acadêmicos chegaram, de fato, a um consenso do que são ou porque existem. Alguns estudiosos acreditam que os círculos em suas disposições perfeitas servem para acompanhar eventos astronômicos, mas isso é apenas uma hipótese, sem registros que comprovem eficácia ou utilização precisa. O registro mais preciso, fala da utilização que os druidas e outros povos deram para o que já encontraram ali: uma utilização religiosa, voltada para cerimônias matriarcais, curas, sacrifícios, etc.

Os Megalitos mais antigos de que se tem notícia da Europa, estão no noroeste da França, na região pertencente à Brittany. Tem cerca de quase 7 mil anos. As famosas pedras de Carnac estão inclusas neste registro, além de alguns dolmens, num período em que a humanidade vivia da pesca e da caça. Em algumas das pedras encontradas, foram detectados desenhos, registros dos homens em suas atividades diárias. Em outras, suas posições indicavam que estavam ali, para que o ser humano acompanhasse eventos meteorológicos. Essas informações estão dispostas nos estudos publicados pelo periódico Proceedings of the National Academy of Sciences. Ao longo dos próximos milhares de anos, as estruturas continuaram emergindo ao redor das regiões costeiras da Europa, incluindo na Escandinávia, em três grandes fases.

Stonehenge pode ter se erguido no ano de 2400 a. C, mas outros Megalitos são mais antigos. Seja qual for a data de seu surgimento ele é o Megalito mais famoso e virou patrimônio histórico, sendo alvo de muitas teorias e estudos. O estudo aqui citado corrobora com a ideia de que a expansão desses Megalitos tenha ocorrido com as mudanças sociais e econômicas da humanidade nas sociedades Neolíticas e na Era do Cobre.

Agora por que existem tantos na Europa? As civilizações os transportavam, acreditem vocês ou não, em toras enormes de madeiras, o que exigia muitas pessoas, muito trabalho, muito sacrifício, muita engenharia. O que só alimenta ainda mais a ideia de que esses círculos estão intimamente relacionados com as crenças dos homens, com o seu íntimo, com o valor que viam em alguma coisa para além do óbvio e do palpável. Seja lá qual era o motivo de o transporte ocorrer, os Megalitos não eram colocados em qualquer lugar. Para melhor compreender, vamos falar do mais famoso: Stonehenge.

Com mais de 6 mil anos de existência, o monumento faz parte do assentamento neolítico mais bem preservado do mundo, junto com Durrington e Avebury, que também ficam na Inglaterra. Até dos Romanos se encontraram artefatos junto a essas localidades, o que comprova a briga territorial, guerras etc. O fato aqui é que vamos focar nos druidas e celtas. Apesar de terem primariamente uma tradição oral, e muito sobre esses povos estar completamente perdido, ainda assim, eram povos que usavam o círculo em suas cerimônias como algo sacro. Stonehenge chegou a ser até um cemitério, dada a quantidade de valas comuns encontradas, com restos humanos e animais. Algumas civilizações, como as que ocuparam o que hoje é o território Escandinavo, enterravam seus guerreiros e representantes com seus animais. As sociedades matriarcais faziam cerimônias ao sol, para que tivessem boa vida, colheita e etc. E no dia 21 de junho, o sol nasce exatamente sob a pedra central desse monumento, marcando ali o início do solstício de verão. Por isso o entendimento de alguns acadêmicos de que Stonehenge servisse aos povos também como um canal meteorológico, marcando as estações de estio, plantação e colheita. O fato é que independente da linha de estudo, como bem diz o artigo da Universidade de Adelaide, Austrália, os povos usavam esse ponto como um local onde se podia ver com precisão os movimentos do Sol e da Lua. O fato se adequa perfeitamente com a pesquisa de Diana Gabaldon para o período em que Claire desaparece: o Beltane - Equinócio da primavera. Essa base arcaica continuou até 2000 a. C., onde os homens já usavam círculos menores mais próximos do que hoje temos como relógios. De uma maneira ou de outra, as civilizações antigas se conectavam com os céus através desses círculos, escolhendo com precisão os locais para que fossem erguidos, mantendo assim a ligação do céu e da terra em suas culturas, formas de vida, ou negócios.

Alguns círculos de pedras mostram também diferenças em suas utilizações, cultos e maneiras de serem erguidos, que a construção, mudança e toda a estrutura de engenharia foram feitas por uma sociedade “rival” por um clã diferente. Seguindo por essa linha de raciocínio, os círculos de pedras, estavam ligados com status, com poder e conquista. Mas essas linhas de pesquisas são baseadas em achismos. A introdução de novas culturas e as mudanças nos padrões climáticos deram um fim ao que quer que tenha iniciado as construções dos círculos de pedras, assim como as origens de novas religiões deu um fim à utilização daquelas pedras e principalmente, a inserção do patriarcado nas civilizações. Vale ressaltar que as mulheres eram as responsáveis por grandes partes dos rituais de civilizações antigas. Os celtas escolheram esses círculos como locais para seus rituais, pela energia que as construções emanam. E povos que vieram dessa ligação, até séculos mais recentes ainda inseriam em suas culturas parte do que esses povos faziam, como são os casos dos festivais de solstícios realizados em países escandinavos, Irlanda e Escócia. Pode ser daí que Diana Gabaldon retirou boa parte de seu material, dos ritos druidas e celtas. Todos intimamente ligados às mulheres, linhagens, sangue e fogo. Fogo sempre mencionado entre esses povos, assim como sacrifícios. Talvez por isso na narrativa de Diana alguns consigam passar, outros fiquem pelo caminho.

Os círculos sempre despertaram o imaginário das civilizações atuais. Seja por qual motivo for, nós iremos, mas eles, ainda estarão aqui.

Texto feito pelas nossas Sassenachs Verônica Sparr e Mônica Araújo


O monumento de Stonehenge

Fonte: Saber atualizado

Referências:

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